quarta-feira, 12 de março de 2014

Carta

No ano passado eu encontrei uma carta na porta da minha casa. Não uma conta de luz  ou um caderno de promoções do supermercado. Era um envelope branco, sem selo, sem remetente, sem nada. 
Eu moro com sete pessoas, o que faz ser bem confuso receber uma carta assim em branco. Claro que eu peguei a carta, dei uma abridinha pra ver se tinha uma pista dentro, mas não tinha nada. Das sete pessoas da casa, uma não sabe ler, então resolvi eliminá-la. Porém podia ser um desenho, o que me fez colocá-la no jogo novamente. Porém, se fosse um desenho, poderia ser para uma outra pessoa da casa, que sabe ler e adora desenhos. Depois pensei que 99% das cartas (principalmente as sem selo, sem nada) são de amor, o que eliminava duas pessoas da casa, que são casadas. Porém, grande parte dos casamentos são infelizmente infelizes, o que leva a infidelidade, portanto não seria prudente eliminar tão rápido o casal da casa. Quando subi para o quarto, encontrei com mais um dos moradores da casa, e este estava dormindo em frente ao computador, o que me fez supor que o morador havia passado toda a noite acordado jogando algum jogo que incentive o suicídio. Essa imagem somada a todo um histórico de isolamento e falta de habilidade para o convívio social, me fez ser obrigada a colocar tal morador em último lugar na minha lista de suspeitos, ou melhor, possíveis destinatários.
A minha candidata preferida não estava em casa, e como tal moradora mora no mesmo quarto que eu moro, achei que não seria problema dar uma olhada na sua cômoda, mochila e metade do guarda-roupa. Pelo menos não seria tão ruim quanto se eu abrisse a carta. Não achei nada de significativo mas descobri alguns pertences meus perdidos a algum tempo.
A investigação como um todo durou meses, parando por um tempo durante as provas finais e voltando a todo vapor no outro ano letivo. Cheguei perto várias vezes, e eliminei com convicção três dos suspeitos. Eu mesma cheguei a ser a principal possível destinatária por certo tempo, porém uma grande reviravolta chegou bem a tempo de me impedir de ler a carta e me levou novamente para o final da lista. A verdade é que esse tipo de coisa é difícil de descobrir. Às vezes não conseguia dormir pensando que o morador nerd poderia ter alguma companhia nesse momento se fosse dele a carta. Aí me consolava dizendo a mim mesma que talvez eu tivesse evitado uma traição (ou pelo menso a descoberta dela).
Em vários momentos pensei em dividir meu segredo com alguém, porém todos os moradores da casa tinham algum morador pra quem com certeza iriam contar, o que inevitavelmente acabaria com o segredo.
Cheguei a marcar reuniões com os moradores prometendo uma grande notícia, mas na hora H não tinha coragem e acabava falando que ganhei um sorteio no facebook, pra depois lamentar que o prêmio nunca chegava.
Algumas realidades são bem melhores quando ainda não são realidades, mas a hora havia chegado e era necessário abrir a carta. Desde quando a encontrei previ o risco de que a investigação se arrastasse por muito tempo, sendo assim havia a possibilidade de que a carta acabasse perdida ou esquecida. Para evitar tal fatalidade, guardei a carta na terceira gaveta do meu guarda-roupa, e anotei em meu diário que havia anotado em meu caderno que havia anotado na lista telefônica onde eu a havia deixado. Porém, no dia em que resolvi ler a carta, abri a terceira gaveta e ela não estava lá. 
Minha primeira reação, de total desespero, foi começar a procurá-la por toda parte. Mas logo recuperei a consciência e percebi que a carta só poderia estar em um lugar: nas mãos do destinatário. Pois mesmo que o morador que a achou não fosse o dono da carta, se ele lesse saberia quem era e daria um jeito de entregá-la. Se não lesse deixaria a carta ali, na terceira gaveta, ou então a levaria consigo e não sossegaria enquanto não descobrisse para quem a carta se destinava. Se fosse esse o caso, só me restava desejar a esse morador mais do que eu havia tido.
O importante é que essa história me trouxe diversos ensinamentos, além de insônia e dois ataques de pânico. Admito que foi difícil me separar da carta. Mas desde o dia que a encontrei, sem selo e sem nada, eu sabia o quão eram pequenas as chances de que fosse eu a destinada a ficar com ela. Porém, fui grata por pelo menos ter sido eu a destinada a encontrá-la.

terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Tarde

Os passarinhos meio que podiam cantar quando eu passar. Algo como uma bela melodia para se dançar num fim de tarde. Uma vitrola, chá, livros distribuídos por cores nas estantes. Ou talvez um noivado no jardim da frente com um trio sorrindo de violão na mão, salgadinhos feitos pela mãe da noiva enquanto o pai do rapaz flerta com as mulheres mais novas.
Pode ser uma espécie de churrasco no domingo, um calor tão grande que faz todo mundo ser amigo, e cada golada na cerveja acalma a alma.
Um dia cinza, um filme antigo daqueles que já passaram tanto e tando na TV, e a expectativa de chuva mantendo todos acordados na esperança de dormir ao som das gotas no telhado.
O fim de uma aula, os últimos toques e cores de um trabalho, aquele momento em que se vê claramente quem aperfeiçoa e quem só quer ir pra cantina comer uma coxinha.
Aquela reunião cansativa, que gira em círculos tão complexos que todos só se limitam a discordar ou concordar.
A expectativa de uma noite melhor, o típico sofrimento de que a tarde precisa acabar porque aí se terá o que fazer, com quem falar, ou mesmo algo melhor pra se pensar. Quem sabe um café frio, um sofá, palavras vazias na tela do computador, enquanto a agenda ao lado marca tantos compromissos sem que você queira. É a hora em que menos parece pesar o cansaço depois de um dia eterno de um trabalho qualquer, com calor, preguiça e esperança. Ou arrumar o quarto, ou escrever um texto, ou um artigo pra sempre inacabado. Ou uma falação sem tamanho.
A tarde acaba, você aí, eu aqui, e ai, é longe.

quinta-feira, 29 de novembro de 2012

- Nada como nadar pelado numa rede.

 ele adorava dizer isso. Mas não acho que ele tenha alguma vez feito. Na verdade eu nem mesmo sei o que significa nadar pelado numa rede, mas de qualquer forma duvido muito que ele tenha nadado pelado em qualquer lugar depois dos 5 anos de idade, pra começar. Mas aquela era meio que a sua frase, tipo um bordão jornalístico ou sei lá, o detalhe é que ele era só um cara qualquer com uma beleza padrão e uma alma ínfima. Essa, por sua vez, era a minha frase. E olha que nem sei o que a palavra ínfima significa. Mas parecia ser algo ruim, assim como ele parecia ser algo ruim pra mim quando dizia ''nada como nadar pelado numa rede''. Talvez esse pudesse ser um romance entre a garota que leu demais no Ensino Médio e o garoto que leu de menos. Mas essa parte já foi escrita muitas vezes e por mais que eu goste de ler sobre opostos que se atraem, escrever sobre eles parece um pouco sem graça de certa forma. Portanto creio que alguns parágrafos serão suficientes pra contextualizar a maldita história que pretendo conseguir tirar de algum de lugar. Voltando ao cara da rede, sendo mais provável que ele tenha tido contato com alguma rede do que nadado pelado prefiro chamá-lo assim, me apaixonei por ele, sei lá quando, sei lá como, fingi que o odiava por uns dois anos, nos pegamos escondido por uns meses e aí o amor foi grande demais pra que se pudesse evitar e assumimos um relacionamento. Três anos depois eu fiquei grávida, nove meses depois eu tive uma filha, Joane. Larguei a faculdade, arrumei um emprego, o cara da rede arrumou dois, nos casamos, alugamos uma casa pequena e fedida, juntamos dinheiro, mudamos pra uma casa pequena e cheirosa, nossa filha fez 3 anos, eu voltei pra faculdade, achei um saco, larguei de novo, fiz um curso a distância qualquer, herdei metade de um escritório de direito do meu pai e ganho dinheiro com ele enquanto meu irmão cuida de tudo. O cara da rede não quer que eu escreva um livro sobre ele. Isso é óbvio, mas ele não admite. Não sei se é medo de que eu releve meus verdadeiros sentimentos por ele, que são de puro ódio e tal, ou se é só algo sobre ter sua imagem exposta. Como se alguém se importasse com a nossa imagem. Ou com o que eu escrevo. Por isso eu não pude dar um nome para ele até agora, ele não aceita nenhuma das minhas sugestões. Todas parecem apontar para ele de alguma forma. O que ele não percebe é que o meu nome estará na capa do livro se ele algum dia sair pelo mundo e aí é evidente que todos saberão que o cara da rede é ele e todos os seus esforços serão inúteis. Às vezes tento me convencer de que isso é uma espécie de plano em que ele me desencoraja tanto que eu fico louca de raiva e por isso escrevo um lindo livro de sucesso e depois ele diz ''oh bobinha, eu só estava te incentivando'' e nós nos abraçamos e beijamos e vamos nadar pelados numa rede. Mas não, é só mais uma atitude egoísta da raça humana. Essa incrível e avançada espécie. Não faço ideia se estou usando os termos corretos. Tem que prestar atenção nisso pra se escrever um livro? Bom, há uns 7 anos atrás eu me imaginaria escrevendo um livro totalmente diferente. Ainda é tempo, é claro, porque nem ao menos sei do que esse livro irá tratar. Talvez da morte de meu pai, ou de como é difícil para uma jovem mulher criar uma filha em meio ao mundo globalizado. Eu não sei. Talvez isso funcione melhor como um conto, uma crônica ou qualquer outra coisa que não precise ter mais do que uma página. Eu estou ficando cansada de não ter um foco, de não ter uma situação incrível pra narrar. Sabe, ficar bêbado não faz com que você escreva bem. Talvez a ressaca, mas não a bebida. Não é tão legal assim ficar bêbado. No fim você só fala um monte de merda e grita e dança músicas que você não consegue dançar sóbria. Não sei se com vocês é assim, não me levem a mal, não é que eu ache ruim ficar bêbada, é só que não é essa coisa toda. Enfim, vou terminar por aqui. Mais uma tentativa fracassada de escrever algo, ou quem sabe mais um momento satisfatório de auto conhecimento através de palavras ditas a si mesmo em uma folha de papel (não que eu esteja usando uma folha de papel).

terça-feira, 11 de setembro de 2012

Hi, i'm Chuck.


(esse não é um conto típico e nem mesmo algo realmente criativo, na verdade é mais uma forma de aquietar a alma após um final de história desolador)
Para Helena.

O fato é que um beijo pode ser totalmente diferente pra cada uma das pessoas que beijam. Enquanto uma reconhece o beijo e através dele alcança diversas lembranças (e supervaloriza cada uma delas), a outra metade acha divertido de uma forma meio triste tentar reconhecer o beijo e alcançar pelo menos alguma lembrança através dele. Mas isso não é estranho, não é incomum, porque o que é necessário pra um beijo, é que haja apenas alguma espécie de sentimento em comum. Que nesse caso, seria um pouco de esperança.


- Morgan, será que você pode me dar um ajudinha aqui? - o terceiro pedido de ajuda de Alex soou meio desesperado enquanto ela tentava equilibrar duas caixas e três mochilas.
Morar junto era um grande passo. As coisas ficam mais fáceis quando se ganha uma casa própria do pai da namorada, e ainda mais fáceis quando só um dos membros do casal precisa se mudar. Mas ver tudo acontecendo tão rápido estava assustando um pouco o barbudinho. E onde estava seu amigo Chuck nesse momento? Meu deus, Morgan precisava de um conselho. Casey já estava longe a essa hora, Ellie e o Incrível também, até mesmo Jeffester! A quem ele poderia recorrer...
- Filho! Vai ser um prazer te ajudar! A Buy More não resolve apenas seus problemas com a casa e o computador, mas também os conflitos que povoam o seu coração! - Big Mike tomou fôlego e deu uma mordida em sua rosquinha. - Deixe-me te contar uma coisa. Quando conheci sua mãe não tive dúvidas de que era a mulher de minha vida e morar com ela foi apenas garantir que todas as minhas noites seriam quentes e calorosas! - Morgan já começava a se arrepender de ter vindo procurar Big Mike. Mas era bom estar de volta a Buy More.


- E então? Alguma coisa? - Chuck forçou um sorriso.
- Não, Chuck. - Sara também forçou um sorriso. - Eu sinto muito. Gostaria muito de lembrar de tudo, mas mesmo as coisas de que me lembro, como Irene Demova, não sei de onde vem.
- Tudo bem. Mas você não pode me culpar por ter um pouco de esperança.
Sara sorriu. Não sabia o dizer, não sabia se deveria ficar, mas sentia que devia isso a ele. Estava na praia ao lado de uma espécie de nerd fofo que dizia amá-la mais do que qualquer outra coisa e a única coisa que conseguia sentir naquele momento era desconforto. Tinha de haver um jeito, uma forma de recuperar suas memórias. Elas tinham que estar ali em algum lugar, pelo menos algumas delas restavam e se havia mesmo chance de que a vida dela pudesse ter se tornado tudo o que Chuck dissera, então ela devia a si mesma recuperar tudo isso.


- Alô? Chuck? Preciso falar com você. Sei que você deve estar com a Sara e vocês já têm problemas suficientes.. mas eu estou enlouquecendo. Fui até o Big Mike pedir conselhos. BIG MIKE! Onde eu estava com a cabeça? Chuck, o que eu vou fazer? A Alex não merece isso. Ela não pode me ver assim. O que ela vai pensar se me ver assim? Chuck? Por que você não me atende Chuck?!
Morgan desligou o telefone, respirou fundo e entrou em casa. A primeira coisa que sentiu foi o cheiro de pizza. Isso o acalmou. Alex havia preparado um jantar para ele, queria comemorar o primeiro dia morando juntos.. devia estar esperando com um bom vinho e algumas velas.. ou então ela poderia estar jogando videogame com uma fatia de pizza na mão. E uma cerveja ao lado do prato. Desde que tenha sobrado pizza pra ele, tudo ficará bem.


A primeira sessão de regressão de Sara foi estranha. Não acreditava em psicologia, nem em hipnose, mas também não acreditava no amor e mesmo assim estava fazendo tudo isso por ele. Por uma chance de provar a si mesma que estava errada e que mesmo ela poderia amar de verdade. Conseguiu se lembrar de algumas informações técnicas, do Intersect.. mas não sentia nada. Na segunda sessão se lembrou de um final de semana quase inteiro quando já estava casada com Chuck. Parecia tudo real, sim, mas quando voltava ao lado dele continuava a estar ao lado de um estranho. Com o tempo diversas lembranças foram voltando, como se fossem coisas de anos atrás, de um tempo que não poderia mais voltar e de sentimentos que já não faziam parte dela. Ela sabia que havia amado tudo aquilo, ela sorria ao recordar, ela queria tudo de volta, mas ela não estava apaixonada por Chuck. Ela amava apenas as lembranças que conseguiu recuperar dele. Se agarrava a elas e juntava forças pra continuar.
Já haviam se passado oito meses desde que beijara Chuck na praia e o mais perto de um momento íntimo que tiveram desde então foi uma noite em que jantaram juntos na casa de Morgan e Alex. Estava pensando nisso quando percebeu o problema. Ela agora se lembrava de ter amado Chuck. Da vida deles, não de todos, mas de vários momentos felizes. Então por que não sentia vontade de estar com ele agora? Pelo mesmo motivo que as visitas dele estavam menos frequentes, as mensagens de texto eram raras e as conversas tentando se conhecer melhor não aconteciam mais. Eles haviam se afastado, haviam se importado tanto com o passado que se esqueceram do presente. Se esqueceram de passar um tempo juntos, de contar as novidades um pro outro, de ir à praia com a esperança de que tudo ficasse bem. Agora, mais do que nunca, ela sentia vontade de vê-lo. Sentia  vontade de ir ao cinema, ao shopping, viajar, visitar Ellie, jantar junto, conversar.. fazer tudo que um casal normal faz. Pois seria assim que eles se apaixonariam um pelo outro novamente, seria assim que eles voltariam a ser Chuck e Sara, ex-espiões, em uma casa branca de porta vermelha com cercas e seus nomes escritos na parede. E foi assim que voltaram. E foi assim que foram felizes para sempre como todos os telespectadores esperavam. Ou pelo menos é o que podemos desejar.

quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Acho que o melhor momento pra morrer é lá pelos 85, depois de ter tido uma vida boa e um ano ruim. Se for depois dos 75 o que importa mesmo é a parte da vida boa e do ano ruim. Você vai sentindo a morte chegar e pensa na vida que levou e em como foi boa, em como foi feliz, na infância no quintal da vovó, na música ruim (e alta) que escutava na adolescência, no dia em que conheceu sua esposa, naquela Copa do Mundo (ou em várias delas), no nascimento da sua afilhada, em como foi triste quando sua mulher descobriu que não podia ter filhos, nos 40! ah como foi bom chegar aos 40.. e você se achava velho! Pensa na promoção que recebeu e na briga com a esposa no mesmo dia, que te fez decidir adotar uma criança, pensa no dia em que adotou a Carolzinha, lembra das viagens em família, dos almoços de domingo, dos truques de mágica no seu aniversário de 43. Lembra bem do dia em que sua filha adotiva falou que te amava pela primeira vez. Lembra de chegar em casa e compartilhar cada detalhe do seu dia com a mulher que amou a vida inteira e achar que nada podia melhorar. Então lembra do nervosismo pra conhecer o primeiro namorado da Carolzinha, e a felicidade ao ouvir que ela finalmente ia se casar com o vigésimo. Lembra da filha de noiva, mais linda até que a mãe, e de como você desconfiou que aquilo debaixo do vestido não era barriga de cerveja.. lembra da Malu nascendo, a coisa mais linda que você já viu, que te fez pensar como era possível amar tanto um ser humano.. Virou avô e a vida ficou perfeita, eram visitas todos os finais de semana, com tudo que uma neta tem direito. Lembrou de como ela te amava e de como quase deixou de acreditar nisso lá pelos 12 anos da Malu, quando ela só ficava no telefone com as amigas. Pensou em como isso tudo foi bobagem e em como a neta sempre gostou de você mais até que dos pais. Lembrou dos 15 anos dela, que festa! E dos 16, 17.. e do rapaizinho que ela apresentou ao avô primeiro do que a qualquer um, dizendo se tratar de um amigo, mas você já soube logo que perdera sua neta de vez. Mas não houve mal não, aposentados, sozinhos.. mas mais do que nunca juntos, foi isso que aconteceu com você e sua esposa, um amor antigo parecia de novo novo! E foram anos lindos, em que os dois se amaram como nunca antes, como só alguém que passa a vida inteira junto sem enjoar pode amar! E aí lembrou do ano passado. De sua filha mudando pra Madri logo após a morte de sua esposa. Você pensou em ir, mas não queria ser um fardo pra ninguém.. então começou a se sentir um fardo, a viver só de lembranças, a só saber falar de lembranças, contar lembranças, almoçar e jantar lembranças. E aí começou a sentir aos poucos, de leve, uma certa vontade de partir. Pensava assim mesmo ''quero partir'', porque querer morrer é feio, é pecado. Depois de uma vida tão boa, querer morrer? Queria partir, queria ir pra próxima, ir encontrar sua esposa no céu, ou quem sabe voltar pra mais uma aventura, mais uma vida cairia muito bem! A memória já falhava, as lembranças iam parecendo meio embaçadas e você corria pro álbum de retratos quando esquecia a cor do olho de alguém, até um dia se viu perguntando ''Quem é essa mesmo?'' e te disseram ''É a Malu, sua neta.''. Foi inevitável, caiu de cama, quis morrer, pediu pra Deus que te levasse logo, que não dava mais e uma noite você não aguentava. Não queria se despedir, disse que ia ser muito triste mas a verdade é que tava morrendo de medo de esquecer o nome de alguém. Deitou na cama às nove, pensou até cansar e por fim, lá pra uma da manhã, agradeceu a Deus pelos seus maravilhosos 84 anos de vida e pelo terrível último ano, que te fez morrer sem querer ficar, mas morrer em paz por saber que foi feliz. Fechou os olhos, fez uma oraçãozinha que sua mãe te ensinou quando criança e dormiu. Isso sim é forma boa de morrer. Sem ressentimentos, sem ninguém dependente de você ficando pra trás. Morrer com a consciência limpa, com o coração a mil, com um corpo cansado de tanto aproveitar a vida. Isso sim é forma boa de morrer! E aí, depois de um sono de pura tranquilidade, você abre os olhos e se dá conta de que não está no céu, mas em casa e que provavelmente vai ser um dos sortudos que consegue chegar aos 91.

sexta-feira, 25 de fevereiro de 2011

Fechou todos os botões da sua camisa pálida e deu a última golada no café frio, quando sentiu um terremoto interno e teve que correr para o banheiro.
Ensaiava levar uma vida séria, com paletó, gravata, croissant e Foucault. Pra se um dia alguém fosse escrever um conto sobre ele pudesse descrever caminhadas de autoconhecimento na praça, momentos de criatividade no trabalho, e ainda acrescentar citações de algum ex presidente norte-americano.

Mas os contos nunca davam certo. Talvez porque a escritora estivesse passando por uma fase de certa infertilidade, ou talvez porque seus atos metódicos já tivessem sido usados em muitas crônicas. O caso é que esteja o personagem fumando um cigarro, trepando ou resolvendo um terremoto interno, a inspiração bate no escritor e o coitado tem que estar disponível. Geralmente a coisa é bem simples. Basta o cara agir normalmente e deixar que escrevam sobre o que ele está pensando. Como quando acidentalmente ele serve duas xícaras de café porque estava distraído imaginando que doideira deve ser o carnaval de Salvador, e o escritor registra as duas xícaras servidas como um claro sinal de solidão.
O problema é quando tem que faltar o trabalho, pra fingir que quer mudar de vida, encontrar destroços de uma nave espacial ou salvar uma garotinha suicida. Não se explica isso facilmente pra um chefe.
- Bom, é o seguinte, faltei ao trabalho ontem porque estavam escrevendo um conto sobre mim em que eu não vinha ao trabalho! É, um conto, um texto, sim, isso mesmo. Eu sou um personagem, oras! Você também. Coadjuvante ainda por cima.
Coadjuvante ou não, ele continua sendo o chefe.
Nesse conto, o rapaz da camisa pálidae do terremoto, teve uma daquelas visões repentinas do porquê veio ao munto e o que deve fazer desde então (coisas que só acontecem em contos) e resolveu largar o emprego, o curso de marketing, as aulas de tango que nem havia começado, e ir atrás do seu grande amor.
Foi até a empresa, pediu as contas, deu um abraço no chefe, fez um tímido discurso de despedida para os colegas de trabalho, apertou a mão de alguns e recolheu suas poucas coisas da mesa.
Fez uma mala sem exageros, sem camisas pálidas e sem esquecer a escova de dentes. Ficou em dúvida de qual livro levar, mas no fim pegou só o mp3.
Despediu-se da vizinha de frente, com quem nunca teve muito contato, mas sabia que ela era a pessoa certa para dizer que ia embora, pois contaria pra todo mundo.
Se certificou de pagar tudo que devia, embora não tivesse o costume de dever ninguém.
Twittou sua partida e prometeu checar seus e-mails de mês em mês.
Deixou seu gato com um amigo, mas não sem lágrimas nos olhos.
E por último, veio falar comigo. Que a minha inspiração voltasse, que eu fosse feliz e criasse um novo personagem. Insisti que ficasse, ou que me deixasse o acompanhar. Mas ele foi firme, me enrolou com uma história de que meu problema era ele, e que dá próxima vez eu escolhesse uma mulher, porque são mais complexas e dão mais assunto. Segurei pra não chorar e tive a impressão que ele também. Mas o canalha ia chorar era de felicidade. Aí, eu prometi escrever um último conto sobre ele, sobre isso. E ele respondeu: ''Escreve, mas vai ser um conto sobre você, e não sobre mim.'' .

sexta-feira, 5 de março de 2010

cesta chata

Vontade de ter um diário. Talvez um diário coletivo, uma sala de aula chata e bilhetes compulsivos. Quem sabe também duas amigas do tipo que te fazem sentir que pode ser superada (digo em níveis de retardamento). No fim, só vontade, ter mesmo só tenho saudade.. fazer o quê, o único remédio pra nostalgia é digitar qualquer coisa. Já disse uma vez que o que eu queria mesmo era o alívio de um papel e a praticidade de um teclado. Mas acabei ficando só com o teclado.
Não adianta. Não vou ter minhas tardes de 7belo de volta. Meus finais de semana dentro de casa, copiando recados, respondendo e inventando perguntas, tendo um namorado e ficando bêbada com amarula. Sentir saudade é uma baita perda de tempo. Mas sexta-feira na internet não se tem mesmo muito com o que gastar o tempo..

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

um dia eu fujo e vo viver de samba

oi

Toda minha capacidade de expressão focada em uma janela de computador. Quem diria.
Cadê toda aquela disposição pra devorar livros e abraçá-los pra ver se dava pra sentir mais ainda aquelas frases e caronas e poemas e romances (?).. agora é só aqui. Vou queimar essa máquina. Sair daqui, parar de conversar, não preciso de tanta comunicação assim, de tantas notificações, avisos, propagandas e detalhes. No fim, são uns detalhes idiotas mesmo, que não fazem falta em uma semana, talvez dêem saudade em um mês, mas no seguinte já são dispensáveis. Podia viver a vida sem notícias, alienada numa casa pequena com duendes de jardim e essas coisas que casas pequenas de gente alienada têm. Tipo, plantas. Mas não me dou bem com plantas. Eu acho elas uma gracinha e tudo, mas odeio ter responsabilidades como regar. Matei um cacto por falta de água no ano passado.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Reflexões num bloco branco de 15 centímetros

23 de janeiro de 2010 você tem a leve impressão de não ter escrito nada no ano, eu, por acaso, não tenho, apesar de no fundo não ter escrito, mas impressões são apenas conclusões impensadas com 36,5% de chance de estarem corretas. Dizem que a água vai acabar. Não no mundo (isso também dizem) mas aqui na cidade. Imaginemos que assim todas aquelas roupas guardadas no fundo da gaveta (presentes das tias) serão usadas. A água é como uma greve de operários. Uma hora tem que voltar, afinal, filhos precisam ser alimentados com o salário no fim do mês. Mas a água não tem filhos, então fica mais complicado (nota: bom título para um filme: Os Filhos da Água).
Vou divulgar uma coisa que pensei quando levava um caldo hoje mais cedo:
GUIA PRÁTICO DE SEQUESTRO
1 Sequestre pessoas pobres. Eles amam os filhos e não chamam atenção da imprensa.
2 Receba o dinheiro por SEDEX. É rápido e seguro.
3 Tenha preferência por filhos. Pais são velhos e inúteis.
Acho sequestro um crime muito desemocionante. Além de ser extremamente capitalista. O que houve com a revolta e o vigor do roubo? O negócio é que as pessoas não pensam mais no significado de seus crimes, só querem lucrar. Nesse caso, o sequestro é realmente mais indicado. Vou mudar de assunto, esse já tem muitas páginas. Ah.
_

Às vezes a gente tem simplismente que parar pra prestar atenção em qualquer coisa. Tipo quando você está lendo numa varanda qualquer enquanto balançam na rede na sua frente sem a mínima presa de viver e você houve um barulho estranho como um assovio agudo, que poderia ser qualquer coisa mas é só o vento. E numa hora dessas não tem jeito, a única coisa que você tem é uma baita vontade de chorar. E acho que escrever é chorar. E acho que não existe melhor forma de chorar do que essa.
_

Nem dá pra entender direito qual é o prazer de acordar tão cedo. Você passa o dia todo se enxendo das pessoas, querendo que algumas sumam e outras simplismente dêem uma volta, mas quando acorda de manhã e se vê sozinho, só fica torcendo pra que todo mundo acorde logo. Ou não.

quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

E aí ela começou a pensar sem parar. Sem parar pra pensar ou de pensar, uma cabeça que nem por um segundinho parava de trabalhar, mesmo que fosse rapidinho assim, tipo um suspiro, um alívio, um sei lá. E ia criando mil coisas, todas as teorias do mundo, misturando todas e não entendendo nada. Entendia até, mas confundia logo, e ouvia isso quando diziam aquilo e foi pirando e pirando e pirando, até que colocava a cara contra o travesseiro e ordenava: para!
Podia sentar num bar, podia beber 100 cervejas e ficar feliz, mas continuava pensando e julgando, e analisando cada movimento ao seu redor, de um jeito chato, às vezes escroto, às vezes irônico bravo preocupado, um jeito sozinho. Mas falava. E falava sem parar, falava quase tanto quanto pensava e não podia controlar e não sabia explicar.
Acho que devia deixar pra lá. Devia esquecer, mas esquecer até não ter mais nada pra esquecer, pra ser capaz de ficar até burra de tão vazia. Alienada e quieta. E aí sim voltar
a ler escrever cozinhar falar conversar beber dançar encontrar ligar brincar brigar se indignar assistir chorar e
tudo que te faça pensar. Pensar sem parar.

quinta-feira, 31 de dezembro de 2009

Eu sempre divago. Eu escrevo pensando, penso escrevendo e não releio não mudo não sei.
E agora eu quero falar do meu ano, e eu não quero repetir que foi o pior, não quero repetir que senti saudade, que odeio estudar e que agora acabou. Tá, talvez eu queira repetir mil vezes que agora acabou. Porque agora eu posso divagar. Posso escrever divagando, pensar divagando e viver divagando. Ou pelo menos acho que posso. Vou escrever tudo que lembrar.
Passei tardes inteiras comendo balinhas de melancia e fazendo exercícios de matemática, pra ir embora me sentindo bêbada e rindo do lado das melhores companhias do mundo, minhas duas Marinas que foram minhas piores manhãs e por isso mesmo merecem tanto crédito. Sabe quando você acaba de viver um momento em que você canta Vinicius de Morais ao ouvir bater o sinal e consegue ser feliz mesmo com toda aquela coisa que te deixa triste? Foi isso. Tive duas amigas que me passaram confiança, em mim mesma, nelas, nas minhas escolhas.. que falam o que pensam pra mim mesmo que o que pensem seja um tapa na minha cara. Pelo menos não era só eu que queria voltar pra casa. Pelo menos não era só eu que queria um subway desesperadamente. Não era só eu nunca, e se não fossem as duas, seria só eu.
A gente fica inspirado quando sofre? Escrevi contos, comecei três livros, passei aulas de zoologia rabiscando sem parar. Descobri que desenhar é um remédio melhor que sorrir e que frases clichês podem ser usadas de vez em quando. Nem toda construção é perfeita e ninguém vai gostar mais dos meus textos que eu mas se eu sinto e penso e escrevo, o resto, ah!
Não consegui chorar, fiquei bêbada, me escondi até quando consegui, percebi que sou mais uma pessoa que tem os melhores amigos do mundo, não decidi nada no ano em que decidir era exatamente o que eu precisava fazer.
Agora consigo fingir que sei cozinhar, viver sem celular e fazer minha unha.
Continuo péssima de decorrar ruas, sem saber andar de bicicleta e assoviar.
Ainda quero viajar pela América Latina, fazer tatuagens, escrever um livro, fazer sexo com o Johnny Depp, ganhar um jacaré gigante de pelúcia, aprender a tocar violão, emagrecer, não casar na igreja e ter uma chincila.
Meu cachorro morreu, reconstrui meu conceito familiar, fiz vestibular e cansei de escrever.
No próximo ano quero encostar num elefante, resolver o que fazer pro resto da vida, terminar o que começar, começar muitas coisas e ficar muito doida no dia 1º de janeiro. Amém.

sábado, 12 de setembro de 2009

Bom dia! Lá vai mais uma mera e meiga divagação emocional após manhã entediante:
(adoro esse ''salvando...'' me deixa segura e me faz lembra do tempo em que eu perdia posts inteiros ou e-mails enormes e tinha que escrever no work e ficar no salvar a cada cinco minutinhos e aquela coisa toda - legal, momento nostalgia de uma coisa que eu odiava fazer, somos estranhos) o X da questão é:

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Escrever na madrugada é poético. Aquela coisa toda de estava indo dormir e veio a inspiração ou quem sabe insônia por amor ou até mesmo alguém esperando o episódio de Ugly Betty terminar de baixar.
Claro, coisas profundas.
Principalmente quando não se sabe até quando se vai ter férias, e vai que eu fico de férias pra sempre ou por uns três meses e aí depois passo mais seis estudando de qualquer forma porque não teria muita lógica o vestibular não ser adiado também.. o que é um saco (palavra não poética) porque quero que isso acabe logo.
51% e eu quero dormir.
Isso é um vício? Talvez eu devesse ler um livro. Ou escrever um, plantar uma árvore e ter um filho. A gente tem mesmo que fazer essas coisas? Aliás, quem foi a primeira pessoa que disse isso? Sempre esqueço quem foi a primeira pessoa a dizer as coisas. Só me lembro que já ouvi e saio repetindo. Vai que foi Hitler ou a Xuxa, ou alguém tão malvado quanto eles? Melhor eu calar a boca. Né?

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Possíveis e impossíveis objetivos para o resto de minhas férias:

1 Ler Incidente em Antares (é uma coisa que eu prometi fazer e que eu realmente vou ter que fazer em algum momento antes de dezembro porque eu pretendo passar no vestibular e esse blablabla todo, mas levemos em consideração que pra me sentir realizada e poder esclamar ''Oh, como essas férias renderam!'' preciso CONCLUIR coisas e esse livro é grande demais pra que eu consiga concluir em uma semana. Há dois anos atrás eu faria em 4 dias, tenho certeza. Mas não sou a mesma pessoa de dois anos atrás e a cada frase paro pra refletir, seja sobre o livro ou sobre qualquer coisa que ele me lembrou. Ou talvez para pra refletir sobre nada, só por preguiça de ler e vontade de refletir.)
2 Assistir todos os Harry Potter's (aposto que consigo. Só preciso que alguém me empreste ou que minha mãe me dê dinheiro pra alugar todos eles, mas não são tarefas muito difíceis. Não vou baixar porque demora e aí eu substituo por outro item da lista. É complicado, eu sei.)
3 Não fazer nada ou alguma coisa na internet (como se eu já não estivesse fazendo isso TODOS OS DIAS. Como devia ser insuportável uma vida sem internet. Porque é claro que tem aquela coisa de crianças brincando na rua e jovens fumando escondido, mas até parece que as pessoas não continuam fazendo isso tudo hoje em dia, só que antes era preciso fazer isso o tempo TODO, o que acaba com toda a graça.)
4 Escrever um livro (posso já ter começado um e esquecido todos os rascunhos em Juiz de Fora? É, posso.)
5 Assistir vídeos engraçados no youtube (tá, só coloquei essa opção pra expressar minha opinião de como é chato ficar assistindo vídeos engraçados no youtube. Existem uns poucos realmente engraçados, mas não sei, eu me sinto meio inútil tipo mendigando risadinhas e doces ou travessuras e é quase assistir televisão! Assistir televisão significa assumir de vez que suas férias são um fracasso.)

AGORA É TARDE DEMAIS. ACABEI DE TER A BRILHANTE IDÉIA DE QUE EU DEVIA TER FEITO ALGUMA COISA COM CONTINUIDADE TIPO AULAS DE DESENHO. MAS EU ESTAVA REALMENTE ACREDITANDO QUE TERIA MÍSERAS DUAS SEMANAS DE FÉRIAS.. A GRIPE SUÍNA ME SALVOU DISSO, MAS ME DEIXA CULPADA EM CASA POR NÃO APROVEITAR DOS MEUS SETE DIAS A MAIS. FIQUEI COM VONTADE DE ESCREVER EM CAPS LOCK. LI NUM LIVRO QUE ERA FALTA DE EDUCAÇÃO MAS NINGUÉM LÊ ISSO ENTÃO NÃO NÃO ESTOU SENDO MAL EDUCADA COM NINGUÉM.

6 Ler algum outro livro qualquer (não sei, tneho a maior dificuldade do mundo pra escolher um livro pra ler. Não pode existir alguém que tenha tanta dificuldade quanto eu. Sempre que tento escolher um, escolho cinco e começo a ler todos, com sorte temrino algum, com muita sorte.)
7 Visitar amigos e parentes (por que ELES não vêm me visitar? E por que quando eles vêm eu geralmente acho um saco? Refletir sobre isso mais tarde.)
8 Fazer uma campanha contra a gripe suína ou contra a corrupção ou contra o desmatamento ou contra o vestibular ou contra a preguiça ou contra qualquer coisa desde que eu saia daqui e faça alguma coisa sem ser clicar na minha página de recados e responder pessoas incapazes de ter um dia dinâmico e divertido feito eu. Tô quente, febre? Quando a gente fica doente pelo menos não se sente culpada por não fazer nada.

CANSEI DE ESCREVER. TCHAU.

o big brother acaba de me adicionar
novo waffer bob esponja
novo waffer piraquêêê

sexta-feira, 24 de julho de 2009

Acho que estou vivenviando nesse momento a sensação de uma enorme descoberta. O negócio é que geralmente consigo alimentar a coisa se sei do que se trata. Sendo ruim, penso de forma ruim. Você fica triste quando sabe que deve ficar triste, e fica feliz quando sabe que deve ficar feliz. Isso é muito fácil e óbvio mas agora eu não sei.
Hoje de manhã eu descobri que não gosto de poesias.
Aí, passados 5 minutos, me lembrei do Mário Quintana e de como eu consigo atribuir falores quintana a tanta coisa, tipo maçanetas quintana, fotos quintana, amarelo quintana, dançar quintana, falar quintana ou janelas quintana.
Como se eu tivesse tido alguma dúvida..

Estou trabalhando arduamente minha mente durante momentos em que a desperdiço. É meio que um exercício de não perder tempo com coisas idiotas como aula de zoologia. Então nesses momentos do meu dia em que não posso perder meu tempo simplismente pensando na vida ou relendo livros idiotas, eu escrevo contos. Mas sofro de uma satisfação momentânea em que gosto deles pra depois de três dias já não gostar tanto assim. Não é nada perfeccionista, é mais enjoar da coisa. O que é meio chato porque assim nunca consigo gostar de nada que eu escrevo pra sempre. Pensei que se eu escrevesse um livro muito muito muito grande talvez eu nunca mais relesse e aí ia ter o amor eterno que tanto desejo mas não tneho assim tanta certeza se isso daria certo.

Agora, se existe uma forma de fazer com que eu pare de pensar, por favor, não me ensinem, isso está ficando cada vez melhor.

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Estou escrevendo com minha nova caneta. Ela está aqui, aberta, do meu lado.. e não sei, talvez eu me sinta escrevendo mesmo com ela e assim não esteja pecando tanto em trocá-la por uma página em branco. Ou então é por ela ser o meu tema que eu prefira que ela fique só aqui, do meu lado, me observando enquanto eu descrevo o momento em que a ganhei.
Acho que ganhei. Na verdade eu vou pagar amanhã, mas como ainda não paguei considero que ganhei. Amanhã, depois que sair da aula e passar por aquela papelaria por onde passo todos os dias, mas que nem sei se já havia percebido ser uma papelaria (o maior dos descasos: não sei nem se realmente é um descaso por não saber se sabia ou não da existência dela), e darei 60 centavos a quem me atender (isso não é uma demostração de honestidade, e sim uma descrição).
Preciso de uma caneta. Perco todas as que ganho e amanhã tenho provas. Claro que eu poderia pegar uma caneta emprestada mas, não sei, olhei aquela portinha.. aquele lugar pequeno. Senti vontade de ir lá e comprar uma caneta. Lembrei do dinheiro no meu estojo.
Mas ela não tinha troco.. assim, ganhei uma caneta. Posso estar estranhamente sensibilizada pelo meu livro preferido e pela forma como me sinto bem quando abraço ele mas não importa exatamente o porquê, só sei que foi um dos melhores presentes que ganhei (futuramente uma das melhores compras que já fiz) e isso é, sei lá, tão legal. (legal não é a palavra.. e eu queria parar de falar sei lá, mas quando releio sei lá está no lugar certo, completamente certo)
Isso é simples. Simples feito uma caneta, feito o fato dessa caneta ser um presente e de repente uma compra, de ser tão normal quanto qualquer caneta e ao mesmo tempo ter sido comprada de uma forma diferente de todas as outras (forma normal, mas forma diferente). E por ser minha (será que fico feliz por ela ser minha?) e por escrever coisas minhas, minhas equações ou textos recheados de sei lá.
Adoro essa caneta. Há muito tempo eu não tinha um tema realmente bom sobre o que escrever.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Você é o que você escreve?

Não escrevo o que eu sou. Odeio definições do que se é. Estilo ''você é o que você faz''. São todas ridículas.
Penso de um jeito, faço do outro, e no fim não sou nenhuma das duas coisas.
Já tive um medo terrível de não conseguir dormir. De errar. De morrer.
Sei lá, não tenho mais.

...

Estava lá mais uma vez na monotonia de uma tarde. Absorta em qualquer bobagem como livros, música ou cerâmica. Pensava em alguma coisa que talvez pudesse ser, bem de longe, chamada de problema, como sua sexualidade ou seu peso.
Tardes passam sem que a gente veja. Rápidas, entediantes, poucas vezes produtivas (aliás, o que seria afinal uma tarde produtiva?). Pensar que enquanto se está sozinho em um quarto se dedicando a algo que não te faz nem ao menos sorrir, poderia estar sorrindo sem parar com alguém por perto (sim, estou falando de amor. de paixão? não). Alguém que nessa mesma tarde não deixa o tédio tomar conta! Não, não.. está lá, desenhando plantas de casas com quartos cheios de tédio (isso seria produtivo?).
Talvez fosse mais útil construir casinhas de palitos de picolé. Milhares, uma vila! Cidade, estado, país! O mundo.
O mundo de palitinhos que logo logo seria derrubado como o real (real? ãm?). E derrubar palitinhos não é legal? Depois de todo o trabalho, de todas as horas gastas, de alguns minutos de contemplação, o prazer maior só vem em puxar um dos palitos e ver todos desabarem (um por todos e todos por um!).
Destruir, arruinar, acabar, liquidar, maltratar, judiar, matar. Ignore a moral, Deus e seu filho que ''morreu por nós'', seus pais e a educação, a opinião a alheia e o amor de seus avós. Agora pense, não é bom? Ou talvez seja só uma desculpa concluir que o ser humano gosta da destruição (talvez, continuo concluindo que gosta). Pensar na explicação me cansa e meu pai me grita. Mas é tão simples viver, por que fico complicando tanto?

quarta-feira, 24 de setembro de 2008

Os segredos do arroz

Ontem tive uma visão de que deveria esconder algo num saco de arroz. Penso que um saco de arroz, enorme como era em minha visão, é um bom lugar pra esconder uma coisa tipo uma estátua mágica que aprisiona uma garça poderosa e cruel há séculos (não é uma idéia original, baseada em fatos [quase] reais). Mas na minha visão acho que o negócio era esconder uma aliança de compromisso. O que não é tão ridículo assim. Ou é?
Seu namorado chega, seu coração bate mais forte, você dá um sorriso bobo e ele diz ''trouxe um presente!''. Um saco de arroz. Sejamos sinceros, mesmo sem saber que algo está escondido dentro do saco você vai sorrir sem graça ''poxa amor.. adorei!''. Seu namorado vai incentivar ''abre aí'' e em meio a todo aquele arroz você vai, depois de horas de procura, achar uma aliança com o nome dele escrito em itálico! Lágrimas.
Tenho completa aversão a alianças de compromisso (ainda mais com nomes em itálico). Não que eu tenha algum trauma estilo ''ganhei uma e meu namoro terminou depois de dois dias!'' ou que eu seja uma anarquista querendo preservar minha liberdade (até tenho uma queda pelo anarquismo, mas isso não vem ao caso). Só acho inútil.
Do saco de arroz eu gosto. Aquele mistério todo de esconder algo, ou de procurar algo, ou então só a simplicidade e a chatice de ser um saco de arroz. Ele existe, naquela monotonia dele.. sendo sempre assim, um saco de arroz. Uma hora cheio, logo vazio.
Então, depois de ter algo escondido dentro de si, já não é mais tão ridículo quanto antes, mas alguém sabe disso? Todos continuam pasando por ele como se fosse apenas um saco de arroz.
''OH O QUE É AQUILO?''
''ÃM? ONDE? ah. Um saco de arroz.''
E a vida continua.

Talvez esse não seja um fato inédito.. se levarmos e consideração que passo por pessoas a todo momento e raramente fico pensando o que é que elas estão escondendo de mim, de você e do mundo. E dela mesma?
Posso passar por assassinos, idiotas, mães, poetas, dançarinas de tango, muleques, contrabandistas, homofóbicos, desempregados, sapateiros ou sacos de arroz e nem perceber o que eles realmente são. Ou perceber errado. O dia inteiro, o tempo todo, e nem me importo com isso. Posso me importar agora, enquanto escrevo e penso, mas duvido que me importarei amanhã quando estiver atrasada pra aula e passar correndo por uma senhora que esconde mil coisas lindas e que poderiam ser ainda mais lindas depois que descobertas por mim.
Mas não descubro. Quase nunca descubro..
Ainda assim, a vida continua continuando (e a garça mágica presa no saco de arroz).

_

Odeio biologia. Talvez minha sobrevivência dependa do meu sistema endócrino, mas isso não me obriga a saber nada sobre ele. Está funcionando? Beleza, vamos ler poesias, construir casas ou salvar o mundo do aquecimento global. Coisas úteis de verdade.
Hormônios, não.

segunda-feira, 15 de setembro de 2008

conto besta de uma Coleção de ventos

De todos os tipos de ventos estranhos que colecionei, esse foi o mais gostoso. Eu não entendo muito bem porque, por mais experiente que seja com eles, os ventos, nunca analisei nada como sua origem, massas de ar e coisas desse tipo. Disso não sei absolutamente nada, mas sei senti-los mais do que sei sentir qualquer outra coisa. O que eu percebi é que a situação sempre colabora e isso torna meu hábito ainda mais bonito. Percebi porque se fosse escolher alguns pra destacar seriam dois, esse a que me referi e meu primeiro vento de verdade.
O primeiro era simples. Sítio da família, finais de semana ensolarados, minha infância e um pé de jaboticaba. Era sentar lá e sentir o vento forte no rosto, às vezes comendo da fruta direto do pé, às vezes brincando com a colher na terra, às vezes tanta coisa. Senti como o vento era bom ali e passei a querer senti-lo em todo lugar.
E passei. Tanto que me apaixonei por isso, e pelos meus filmes em que os cabelos voavam e eu podia quase sentir o vento de lá aqui. Meu sonho era o vento do trem, mas o mais perto que cheguei foi o vento do carro.
Viagens eram sinônimos de novos ventos, novos ares e mais paixões. Uma amiga me disse para anotar. Para anotar cada vento e sua descrição. Tentei, mas não dava certo, perdia horas escrevendo, tentando chegar perto da sensação do vento, e assim perdia cada brisa imperdível e ia me perdendo dentro de mim. Tiram o vício e a gente se perde, é assim.
Meu outro vento predileto foi mais complexo. A situação toda era tão maior que não dá pra entender só com minhas palavras secas.. na minha pré-adolescencia, em que eu só sabia ler pra depois sonhar com o que tinha lido, eu queria uma paixão. Queria logo um amor arrebatador, mesmo que sofrido, mesmo que platônico, mesmo que distante. Eu queria sentir o que lia, e pra isso precisava de toda alegria e dor de ter um amor.
Tentava amar tudo. Tentei vizinhos, colegas de sala, meus dois irmãos e até meu pai. Cheguei perto com um estranho de cabelos cacheados que vi no metro, mas o vi dizendo que odiava abelhas e não sei porque naquele momento fui tomada por uma adoração imensa as abelhas, não conseguindo me apaixonar por ele.
Quase que carente, desesperada por sentir, desci de bicicleta um morro enorme do meu bairro, coisa que eu fazia todos os dias. Fazia e no fim sentia junto com o vento aquele cheiro de pipoca da praça. Era minha paz. Mas num tal dia em que, por motivos desconhecidos mas com certeza muito importantes, o pipoqueiro não fez sua pipoca, eu desci. Desci e senti um vento com cheiro de nada, de criança, de árvore, de perfume vagabundo. Com cheiro da falta de cheiro de pipoca. De chão, poeira e água. Chuva, calor, gente. Senti um vento com cheiro de vento, vento puro na mistura que ele é, e me senti parte daquilo, do meio, do cheiro, do vento. Me senti parte do mundo e me senti parte do amor.
Devia ter voltado e descido o morro de novo. Mais umas cem vezes, mil. Até que virasse vento com cheiro de mim.

Quem?

'' 'Agora, Kitty, vamos pensar quem foi que sonhou tudo isso. É uma questão séria, minha querida, e vcê não devia ficar lambendo a pata desse jeito... [...] ou fui eu ou foi o Rei Vermelho. Ele fez parte do meu sonho, é claro... mas nesse caso eu fiz parte do sonho dele também! Terá sido o Rei Vermelho, Kitty? [...] me ajude a resolver isto! Tenho certeza de que sua pata pode esperar!' Mas a implicante gatinha só fez começar com a outra pata, fingindo não ter ouvido a pergunta.
Quem você pensa que sonhou?'' (Alice no País do Espelho)



Eu e a Helena sonhamos.